segunda-feira, setembro 19, 2005

A redação por Tom Wolfe

O lugar parecia o latão de doações da Legião da Boa Vontade... um monte promíscuo de lixo... Destroços e cansaço por toda parte... Se alguém como o editor do local tinha uma cadeira giratória, a junta central estava quebrada, de forma que toda vez que ele se levantava, o assento virava, como se tivesse sido atingido por um golpe lateral. Todo intestino do edifício ficava à mostra nas alças e linhas de uma diverticulite - conduites elétricos, canos de água, canos de aquecimento a vapor, dutos de chuva, sistemas de sprinklers (?), tudo pendurado e gemendo no teto, nas paredes, nas colunas. A bagunça toda era pintada, de alto a baixo, com lodo industrial, Cinza-Chumbo, Verde-Metrô, ou aquele inacreditável vermelho morto, aquela horrenda têmpera de pigmento e sujeira com que pintam o chão da sala das máquinas. No teto, havia escaldantes carreiras de luz fluorescente colorindo a atmosfera de azul-radioativo, queimando manchas de calvice na coroa dos revisores, que quase nunca se mexiam. Era uma grande fábrica de tortas...

E isso era o New York Herald Tribune em 1962. Devo dizer, as coisas continuam insalubres, fedendo cigarro e frango frito (não perguntem).



Ah! Crédito: do livro "Radical Chique e o Novo Jornalismo"

domingo, setembro 11, 2005

Raça Ruim

O motivo desses posts aparecerem aqui depois de meses sem atualização é um só: Plantão. Pessoas, não queriam ser jornalistas. Dá muito trabalho, e o retorno financeiro é pequeno, não cobre o preço do plano de saúde (e você vai precisar de um plano de saúde). Além disso, jornalista é uma raça muito ruim. Quase tão ruim quanto os advogados (ó, me processem!).
Mas, se mesmo assim, em um momento de pura insanidade, você decidir ser jornalista. Existem algumas coisas que você precisa saber:


Em primeiro lugar, é importante estar conformado desde o começo:
TODO jornalista é picareta, mentiroso e inventa coisas que não aconteceram.
"Menti, menti, menti", dizia Jason Blair, o repórter o New York Times que
inventava notícias (google de J.B. para você).

Você não vai mudar o mundo. Não vai ficar famoso e viver uma vida de
glamour. Arrumar emprego não é fácil. Assessores, que praticamente não são
jornalistas, ganham muito melhor, mesmo com um trabalho mais fácil. Além disso, eles NÃO COLABORAM com o seu trabalho (não, vocês não colaboram). Você vai
trabalhar feito um maluco, ter que dar plantão e não vai ganhar tão bem como um
médico e, sim, pode ser que tenha que ver cadáveres.

Jornalistas são prepotentes, arrogantes, acham que sabem tudo do mundo. Mesmo assim, você é respeitado por saber falar o que não conhece. Todo mundo pensa que é um profissão sensacional. Você ainda acha que pode exercer uma influência positiva em alguém.

Ah! Bebem café adoidado, são alcoólatras, fumam feito chaminés e posicionam-se a favor da legalização da maconha (não estou dizendo que sou contra). Gostam de samba-rock, de Chico Buarque, de cinema cult iraniano, de filmes que ninguém assiste. Odeiam Hollywood, a TV Globo, a instituição familiar, a Alca e, principalmente, PSDB e PMDB.

Jornalistas são mal comidos e não têm tempo para o amor. Odeiam criancinhas. Vestem-se mal e dizem que são modernos.

Dicas importantes.

  • Leia: Notícias do Planalto, 1984, o Mito da Caverna de
    Platão, Nití (que eu não sei escrever), Chatô, A Sangue Frio, os do Caco
    Barcellos, os do Garcia Marques, José Saramago.
  • Saiba o que é e não esqueça: LIDE, Escola de Frankfurt, Sociedade do Espetáculo, Indústria Cultural e Cultura de Massa.
  • Assista: Cidadão Kane, A montanha dos sete abutres, quantos puder do Kubrik e do Felini, Edukators, Elefante, algum do Kurosawa.
  • Tenha em casa: Manual de redação da Folha (mas eu gosto mais do do Estado).

Jornalismo é legal, utópico. Eu amo jornalismo, mesmo odiando todos os atributos negativos que vêm com ele.

O blog morreu. É incrível como uma quase-jornalista pode ter tão pouco para falar. A questão é que eu não vou ficar aqui escrevendo sobre a crise política, sobre os políticos corruptos nos quais não votei, não quero falar de assuntos que outras pessoas podem falar melhor, não quero repetir pensamentos e teorias que todo mundo já está careca de saber.
E isso não é um diário pessoal, não vou escrever que "amanhã é meu aniversário, estou muito contente pois minha mãe veio passar o findi comigo". Os acontecimentos da minha vida ordinária não dizem respeito a ninguém. Assim como os seus também não me interessam, a não ser que eu goste MUITO de você. Além disso, ninguém merece ler as minhas constantes reclamações sobre nada. Eu reclamo muito.
Eu acho que blog é uma coisa muito chata se seu dono não souber conquistar os leitores pelo estômago. O Quase Formadas nunca teve leitores (viu como reclamo?).