quinta-feira, dezembro 15, 2005

O que é esse aterro?

Não vou dizer que vivi aí os melhores anos de minha vida, que adorei cada momento em que passei cercado por paredes sem janelas e tubulações expostas, ao som de eternas lamúrias, gritos e escarradas em cestos de lixo. Soaria muito forçado, ainda mais vindo de mim.
Não vou dizer que admiro todos os meus colegas, tanto no âmbito profissional quanto no pessoal, e que são excelentes pessoas e gênios do jornalismo. Seria mentiroso. Sempre tolerei muitos, desprezo alguns, admiro uns poucos e são poucos os que chamo de amigos.
Também não posso dizer que foram quatro anos jogados no lixo. Seria a maior das mentiras. Nesse período, conheci gente muito boa e fiz amigos inesquecíveis. Manos de verdade, com quem aprendi sobre jornalismo e sobre a vida. Nunca vou esquecer, por exemplo, os gestos de carinho que a Ohana recebeu quando aportou por aqui. Desnecessário dizer quem são esses amigos: vocês sabem.
Acima de tudo, aos amigos: lembro que salário não compra dignidade, e que ninguém é obrigado a tolerar escrotidão e grosseria. Se a demissão é o preço pago por quem pede apenas para ser tratado com respeito, então é um custo baixo. Os grilhões mais traiçoeiros são aqueles em que você próprio se acorrenta. E lembrem: as paredes não têm janelas para que a gente se esqueça de que há um mundo muito maior do lado de fora.

FSalvadori
demitido porque não quis mais ser escravo desses senhores de engenho
Fátimas Bernardes e Willians Bonneres só existem nos filmes.
E vamos combinar que a Globo é uma grande ficção.